Exposição "SONDAGENS: Do fundo à Superfície" de Noara Quintana
Quando: até 10 de dezembro
Onde: Memorial Meyer Filho Endereço: Praça XV de Novembro, 180 - Centro Quanto: Gratuito Evento no FB: www.facebook.com/events/811597188878389 Noara Quintana parece a todo momento querer construir ou habitar, quem sabe seja isso ainda pintar, ainda escrever, qualquer coisa de improvável sobre paisagens. Coisa própria dos cães, própria dos artistas, Noara caminha sempre à espreita, sondando espaços aparentemente insondáveis, sobre os quais se possa pisar algum labiríntico trajeto, cartografar qualquer coisa cujo excesso se faz vazio, trazer a superfície um pouco de tempo perdido, tempo remoto, tempo vertiginoso, ou mesmo edificar um frágil castelo com pó de carvão vegetal. Talvez esse último O Castelo, o impossível castelo de Kafka!? Não, tal relação não seria provável, pois K. jamais adentra o castelo, enquanto que Noara já está dentro do seu, o edifica sobre si mesma, existe em sua fortaleza, faz-se o alicerce de 1,52m por 1,52m do Quadrado Negro que aos grãos de areia quer se fundir. Mas ainda não seria aquele Quadrado Negro, antes que algo edificado sobre a superfície, algo edificado sob a superfície, algo que almeja o fundo, ou que o fundo quer trazer ao plano? Estranho desejo esse de construir castelos subterrâneos, desejo de roedor esgaravatador kafkiano, edificador de obscuras câmaras sem entrada e sem saída, desejo de pintor de abismos Caspar D. Friedrich, ou mesmo de Bas Jan Ader, o nadador de profundidades marítimas Em Busca de um Milagre. Noara produz obras difíceis, não menos silenciosas, onde nad a aparenta começar, tampouco terminar, não obstante tudo parece ruir, desaparecer, dissipar-se como poeira cósmica no espaço sideral da duna, do papel, do bosque, do tempo. Se Ontem as carpideiras varreram o terreno, hoje Noara empurra o arado, constrói sulcos sobre o solo árido como o bom poeta sobre a folha de papel, pois é preciso rasgar, é sempre tempo de rasgar. Assim se escreve versos bárbaros, versos duros, precisamente metrificados, um poema negro e quadrangular cujos lamentos desgarrados da terra se fundem às cantigas tortuosas e populares da vegetação circundante, aquelas mesmas que entoam os pescadores em alto mar. "Este é o teu mundo, isso é um mundo!”, dissera a si mesmo Dr. Fausto acerca daquele "Maldito buraco abafado na parede” no qual se metera a conhecer os mistérios da humanidade. Todos temos um nosso mundo, é evidente que o temos, as bestas os têm, até mesmo os idiotas. Noara traz às obras parte do seu, um mundo em que tempo, espaço e memória se fundem e se confundem com o pó de carvão de um Quadrado Negro, com a terra arada que se quer poesia e canção, ou com os grãos de areia do poeta Edmond Jabès: "A memória do mundo está num grão de areia”. texto de Ricardo Mari |
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Categorias: Dezembro 2014 Tags:
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