Coronavírus em SC: Comunidade científica se manifesta contrária à flexibilização do distanciamento social
Quando: 06 Abril 2020, segunda-feira
Onde: entidades científicas de Santa Catarina CORONAVÍRUS - COVID-19 Em manifesto divulgado no dia 6 de abril, entidades científicas de Santa Catarina se posicionam em relação à flexibilização do distanciamento social, expressa pelo Governo do Estado na portaria 223, de 5 de abril. “A portaria repete o erro do plano anterior, afronta à ciência, às evidências epidemiológicas e tem potencial para agravar a epidemia”, destaca o documento. As entidades salientam que não há disponibilidade de kits para testar todos os pacientes do estado e que a epidemia está em plena expansão. Ressalta-se ainda que, nas últimas três semanas, os casos de síndrome respiratória aguda grave no Brasil foram 596% maiores do que no mesmo período do ano passado e que a carência de dados epidemiológicos, somada a algumas políticas adotadas, provoca uma falsa sensação de segurança na população. Assim, a força-tarefa alerta para a natureza precipitada da portaria 233 e, em consequência, para o risco do aumento de casos. Também recomenda que o governo regulamente o uso obrigatório de máscaras e a adoção de medidas de higiene por todos os profissionais que tenham interação com o público, bem como aumente as informações sobre a epidemia, as campanhas de conscientização e a fiscalização e adie a validade da portaria 223 até que haja condições de segurança e informação suficientes para permitir o retorno gradual das atividades. Confira o manifesto na íntegra: MANIFESTAÇÃO DE ENTIDADES CIENTÍFICAS E DA ÁREA DA SAÚDE SOBRE NOVA PORTARIA DO GOVERNO DE SANTA CATARINA A retomada pelo governo de Estado de SC de sua posição assumida em 26 de março, de flexibilização do isolamento social, que é agora expressa na portaria 223 de 5 de abril, exige a reiteração de nosso posicionamento manifestado publicamente em 27 de março. A portaria repete o erro do plano anterior, afronta à ciência, às evidências epidemiológicas e tem potencial para agravar a epidemia. Considerando que: 1. O Ministério da Saúde, em seu boletim epidemiológico de 03/04/20, afirma que os estados que implantaram medidas de distanciamento social ampliado “devem manter essas medidas atéque o suprimento de equipamentos (...) e equipes de saúde (...) estejam disponíveis em quantitativo suficiente”. Perguntamos: Já temos essas condições? Com base em que dados científicos o governo elaborou a nova portaria? 2. Não há disponibilidade de kits para se testar todos os pacientes em SC. Uma equipe de pesquisadores da UFSC que, desde 20/03, se articulou junto ao Lacen/SES/SC para realizar exames de diagnóstico - e que permanece mobilizada e pronta a realizar os exames – informou hoje que “em razão da intermitência e demora no fornecimento de kits de diagnóstico ao Lacen até a semana passada, a atividade voluntária da UFSC foi comprometida pela impossibilidade de repasse dos referidos kits”. 3. Cerca de metade dos doentes por Covid19 são assintomáticos e, dos que tem sintomas, cerca de 20% desenvolvem insuficiência respiratória que pode demandar hospitalização. 4. A curva de crescimento de casos em SC não é suave nem decrescente. A epidemia está em plena expansão. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, dentre os pacientes que foram testados no país, 7% eram positivos para o Covid-19. Num cálculo simples, se temos 379 casos confirmados hoje no estado, estima-se que haja 4055 infectados. Desses, cerca de 2850 podem transmitir a doença. 5. O tempo entre o contágio e o início de sintomas mais graves é de 14 dias, em média. Portanto, o impacto de qualquer medida de abertura de atividades econômicas só pode ser avaliado após este período. 6. Nas últimas três semanas, os casos de Síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Brasil foram 596% maiores do que no mesmo período do ano passado, sem nenhuma explicação plausível, exceto pela epidemia de Covid19. 7. Uma avaliação publicada em 03/04 aponta que SC é o terceiro pior estado do país em termos de transparência de dados sobre a epidemia e que o nível de informação prestada é insuficiente para o monitoramento da doença. 8. A carência de dados epidemiológicos, somada a algumas políticas adotadas, provoca uma falsa sensação de segurança na população, que passa a acreditar que a doença atinge apenas grupos específicos e pequenos. 9. Em SC, há mais gente doente entre os 30 e 39 anos de idade do que nas demais faixas etárias. 10. A comunidade científica, bem como a sociedade catarinense, desconhece algumas informações fundamentais, como por exemplo: Qual o número de casos suspeitos? Qual o número de internados, em leitos comuns ou de UTI? Qual o número de testados e de testes disponíveis? Quantos internados por SRAG foram testados? Quantas mortes por SRAG aguardam resultados? Pelo exposto, nossa força-tarefa alerta para a natureza precipitada da portaria 233 e para o risco do aumento de casos como consequência desta. Além disso, recomendamos que: a) O governo regulamente o uso obrigatório de máscaras e a adoção de medidas de higiene por todos os profissionais que tenham interação com o público. Essas medidas podem ser acompanhadas por um plano de produção, a partir do grande parque têxtil instalado no Estado, de máscaras padronizadas, em quantidade e qualidade adequadas, pois avaliamos que máscaras domésticas serão insuficientes para vencer a epidemia. b) O governo aumente imediatamente: as informações sobre a epidemia, as campanhas de conscientização e a fiscalização. c) O governo adie a validade da portaria 223 até que haja condições de segurança e informação suficientes para permitir o retorno gradual das atividades. Por fim, repetimos o pedido de 27/03/20: MAIS QUE NUNCA, É HORA DE CONFIAR NA CIÊNCIA! Em 31 de março de 2020, a SBPC-SC comunicou oficialmente ao Governador do Estado (além de outras autoridades e veículos de imprensa) que uma “força-tarefa de cientistas para o enfrentamento da pandemia Covid-19 no Estado de SC” estava à inteira disposição do governo para “esclarecer dúvidas, interpretar dados e indicar estratégias que sejam baseadas n as mais confiáveis evidências científicas”. Informamos ainda que contávamos com apoio de diversas associações científicas amplamente reconhecidas, incluindo a Fiocruz do Rio de Janeiro. Até esta data, não recebemos nenhum retorno por parte do governo. Apenas tomamos conhecimento, pelas redes públicas, de que no dia 3 de abril, o governo criaria seu próprio cadastro de pesquisadores voluntários, convidados a se cadastrar individualmente, como especialistas, para serem coordenados pela Fapesc, órgão do governo catarinense. Assinam esse manifesto em 6 de abril de 2020: Secretaria Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência de SC – SBPC-SC Departamento de Saúde Pública – SPB/CCS/UFSC Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia - CCB/UFSC Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco Sociedade Brasileira de Virologia - SBV Sociedade Brasileira de Imunologia – SBI Regional Sul Associação Brasileira de Saúde Mental – Abrasme Associação Brasileira de Enfermagem – ABEN/SC Sociedade Brasileira de Bioética – Regional SC Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia – SBFa Instituto Federal de Santa Catarina - IFSC Conselho Regional de Fonoaudiologia – CREFONO / 3ª Região Sindicato dos Professores das Universidades Federais de Santa Catarina - Apufsc-Sindical Direção do Centro de Ciências da Saúde – CCS/UFSC Direção do Centro de Ciências Biológicas – CCB/UFSC Direção do Centro de Filosofia e Ciências Humanas – CFH/UFSC Direção do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas – CFM/UFSC Direção do Centro de Ciências da Educação – CED/UFSC Direção do Centro de Desportos da UFSC – CDS/UFSC Direção do Centro de Comunicação e Expressão – CCE/UFSC Direção do Centro de Ciências, Tecnologias e Saúde de Araranguá – CTS/UFSC Direção do Centro de Ciências Agrárias – CCA/UFSC Direção do Centro Sócio-Econômico - CSE/UFSC Direção do Centro de Ciências Jurídicas - CCJ/UFSC Direção da UFSC – Campus Blumenau Direção do Centro de Ciências Rurais de Curitibanos - UFSC Direção do Centro Tecnológico de Joinville – CTJ/UFSC Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e do Desenvolvimento - UFSC Programa de Pós-Graduação em Biologia de Fungos, Algas e Plantas - UFSC Programa de Pós-Graduação em Bioquímica - UFSC Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia e Biociências - UFSC Programa de Pós-Graduação em Ecologia - UFSC Programa de Pós-Graduação em Farmacologia - UFSC Programa de Pós-Graduação Multicêntrico em Ciências Fisiológicas - UFSC Programa de Pós-Graduação em Neurociências - UFSC Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva – PPGSC/UFSC Programa de Pós-Graduação em Saúde Mental e Atenção Psicossocial – MPSM/UFSC Programa de Pós-Graduação em Nutrição – PPGN/UFSC Programa de Pós-Graduação em Odontologia – PPGO/UFSC Programa de Pós-Graduação em Gestão do Cuidado em Enfermagem – MPENF/UFSC Programa de Pós-Graduação em Linguística – PPGL/UFSC Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família - UFSC e SMS Florianópolis Departamento de Nutrição – CCS/UFSC Departamento de Ginecologia e Obstetrícia – CS/UFSC Departamento de Patologia – CCS/UFSC Departamento de Odontologia – CCS/UFSC Coordenação Local do Programa de Pós-Graduação em Assistência Farmacêutica - associação de IES Coordenação do Curso de Graduação em Farmácia da UFSC Coordenação do Curso de Graduação em Nutrição da UFSC Coordenação do Curso de Graduação em Medicina da UFSC – Campus Trindade Coordenação do Curso de Graduação em Ciências Biológicas da UFSC Núcleo de Pesquisa de Nutrição em Produção de Refeições NUPPRE/UFSC Núcleo de Estudos em Linguística Aplicada – NELA/UFSC Núcleo de Pesquisa e Extensão em Bioética e Saúde Coletiva - NUPEBISC/UFSC Núcleo de Estudos e Pesquisas em Avaliação em Saúde – NEPAS/CCS/UFSC Núcleo de Humanização, Arte e Saúde – NUHAS/CCS/UFSC Grupos de Estudos em Linguagem, Cognição e Educação – GELCE/UFSC Grupo de Pesquisa em Farmacoepidemiologia Grupo de Pesquisa em Política de Saúde – GPPS/CCS/UFSC Grupo de Estudos e Pesquisas em Audiologia - GEPA/CCS/UFSC Laboratório de Águas Urbanas e Técnicas Compensatórias – Lautec/UFSC Teia de Articulação pelo Fortalecimento da Segurança Alimentar e Nutricional - TearSAN / UFSC Liga Acadêmica de Saúde Coletiva – LASAC/CCS/UFSC Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis – SINTRASEM Fórum Saúde e Segurança do Trabalhador no Estado de Santa Catarina – FSST/SC Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora de Santa Catarina – CISTT/SC |
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