Exposição "Elas São: Galeria de Mulheres" de Narcisa Amboni
Quando: até 30 de abril
Onde: Biblioteca Universitária (BU), UFSC Quanto: Gratuito Evento no FB: www.facebook.com/events/589521017920548 A exposição Exposição "Elas São: Galeria de Mulheres" será inaugurada às 16h de quarta-feira, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, na Biblioteca Central da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Dez retratos em acrílico sobre tela de mulheres anônimas e famosas evocam uma mostra artística significativa da presença da mulher na contemporaneidade. Esse número cabalístico, que significa liderança, força e vitória, explica um pouco a seleção das personalidades femininas que compõem a exposição “Elas São: Galeria de Mulheres”, com a qual a artista plástica, professora universitária e bibliotecária Narcisa Amboni homenageia mulheres que impactaram ou impactam este tempo com sua arte, conhecimento, militância política ou simplesmente com sua presença carismática no mundo. A exposição permanece aberta à visitação gratuita até 30 de abril, de segunda a sexta-feira, das 7h30min às 22h e aos sábados das 8h às 17h, no hall do auditório Elke Hering da Biblioteca Central da UFSC. Duas literatas brasileiras integram a galeria: uma é a professora, dramaturga, tradutora, roteirista, ensaísta e contista Eglê Malheiros, hoje radicada em Brasília, que ao lado do companheiro Salim Miguel fez acontecer o movimento modernista em Florianópolis, com a criação do Grupo Sul. A segunda é a goiana Cora Coralina, expressão maior da poesia feminina de rica vertente popular, que viveu até 1985. A cientista Bertha Lutz, líder feminista e política paulista, falecida na década de 70, desponta na exposição como uma mulher pioneira no campo da ciência, ainda dominado pelo mundo masculino, e pioneira também na luta pelo voto feminino e pela igualdade de direitos entre homens e mulheres no Brasil. Além delas, outras mulheres recriadas pelas tintas evocam o protagonismo da mulher nos frontes de batalha e nas lutas políticas do seu tempo, como Anita Garibaldi, a heroína da Revolução Farroupilha e Antonieta de Barros, a primeira de putada negra e mulher em Santa Catarina. “Ambas deixaram marcas indeléveis na história de Santa Catarina pelos seus feitos e pela sua existência forte”, assinala Narcisa. Nesse universo, a artista encara o desafio ético de retratar Dilma Roussef, uma mulher polêmica, que ainda não foi vista com o afastamento e a legitimidade da história, mas que, como ela própria diz, “tornou-se um emblema indiscutível de coragem e de enfrentamento do poder masculino para o mundo inteiro, quer se goste dela ou não”. Com o retrato de Roberta Moraes de Bem, atual diretora da Biblioteca Universitária da UFSC, Narcisa homenageia as mulheres do seu meio profissional e da instituição onde atuou como bibliotecária durante 36 anos, exercendo também o cargo de direção no período de 2008 a 2012. Explorando a dialética entre fama e anonimato, ela captura o gesto cotidiano das famosas e a celebridade das anônimas. Um sorriso, uma expressão, um chiste: o imperceptível comparece. A galeria contempla ainda uma série de mulheres comuns, donas de casa, que se destacaram por seu carisma e traços de personalidade. Nela figuram a amiga Ondina Doin Vieira Wandelli, a sogra Dulcina Nunes Pereira Sardá, ambas já falecidas e Ignez Girardi Amboni, sua mãe, representando diferentes culturas influenciadas por imigrações europeias no Estado: francesa, açoriana e italiana, respectivamente. Através delas, a retratista celebra as matriarcas, mulheres da geração da II Guerra Mundial que são, segundo Narcisa, presenças invisíveis e estruturantes na sociedade brasileira. Uma trajetória No cavalete, onde todas “as outras” foram esboçadas a pinceladas livres, pousa ainda uma décima primeira imagem que traz ao público e à artista um perfil dela mesma. Com esse auto-retrato, o único em aquarela, meio dentro, meio fora da coleção, Narcisa Amboni, 57 anos, que gosta de se apresentar como mãe de Maria Isabel e avó dos pequenos Benjamin e Lucca, se mostra como sujeito e objeto dessa composição heterogênea de faces. A definição das personagens da galeria é mesmo fruto da intersecção entre as escolhas subjetivas e objetivas das mulheres que cruzaram o seu caminho e aquelas que falam às questões prementes do nosso tempo. “Comecei a pesquisar, mas no fim foram ‘elas’ que me escolheram”, diz sorrindo. Conta que recebeu muitas sugestões de retratos desde que começou a preparar a exposição, no final de 2016, mas acabou seguindo as “intuições da alma”. Natural de Nova Veneza, Narcisa é a terceira entre sete filhos, cinco mulheres e dois homens, frutos da união entre Ignez e Dinis Amboni, pequenos agricultores e comerciantes, que mantiveram um armazém para abastecer restaurantes e mercados em Criciúma e garantir o sustento e a educação superior de toda a prole. A atração pela pintura veio ainda na infância, através da arte sacra. Aos 19 anos, cursando Biblioteconomia e Documentação na UFSC, e atuando como estagiária na Biblioteca Universitária, ingressou na instituição por concurso público como agente administrativa. “Estudava pela manhã e trabalhava das 13h às 22h, batendo relógio de ponto”, conta. Depois de formada, prestou concurso para bibliotecária, fez mestrado em administração e doutorado em Engenharia de Produção pela UFSC. Esteve à frente da Seção de Coleções Especiais por mais de dez anos e da Divisão de Assistência aos Usuários por outros 12, até assumir a vice-direção e finalmente a direção geral da BU de 2008 a 2012. Em 2015 se aposentou depois de 36 anos de serviços prestados na instituição onde iniciou e desenvolveu a vida acadêmica, profissional e artística. A atividade como pintora foi se afirmando paralelamente, a partir do ingresso no Studio Marilda Zamboni, em 1997, e da participação em coletivas. Em setembro de 1998, um curso no Studio Sotto Mesa, no Passeo del Prado, em Madrid, solidificou a formação artística, com visitas a museus e um estudo profundo do s principais pintores. No ano seguinte, no Hall da Biblioteca Central da UFSC, realizou a primeira exposição individual, dedicada às variações da flor Narciso. Atualmente é aluna no Atelier Smith – Irnaudi Menegon. Em 2004, teve uma participação expressiva no lançamento da coletânea de escritores catarinenses consagrados pelo evento Dedo de Prosa, com uma exposição de 10 telas, todas provocadas pela “visão interior” das obras dos autores reunidos no livro. Dessa interface entre literatura e pintura surgiu uma importante coleção de quadros inspirados em contos de Salim Miguel, Cristóvão Tezza, Flávio José Cardozo, Jair Hams, Maria de Lourdes Krieger, Adolfo Boss, Oldemar Olsen Jr., Silveira de Souza, Guido Wilmar Sassi e Sérgio da Costa Ramos, com quem já convivia através dos livros e dos encontros com autores promovidos pela biblioteca. Essas telas encontram-se hoje dispersas em diversos departamentos da UFSC, assim como outros trabalhos inspirados na literatura, incluindo um retrato imaginário da Capitu de Machado de Assis. Desde a aposentadoria, a artista, que carrega a influência impressionista, tem se dedicado à composição de mulheres. Elas foram passando do figurativo para um abstracionismo cada vez mais radical. Subitamente, dos corpos híbridos, desconstruídos, decompostos, dissolvidos em manchas ou dissecados a ponto de o interior tornar-se também exterior, reapareceram os retratos reafirmando a referência aguda aos modelos. Todavia, é como se eles estivessem ao mesmo tempo se libertando deles, criando uma virtualidade dual e pictórica ou um hiper-real, mundo vivaz onde as mulheres-telas não reproduzem um modelo, mas como diz o título da exposição, elas apenas são. (Raquel Wandelli – jornalista e ensaísta) |
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Categorias: Abril 2017
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